quinta-feira, janeiro 06, 2011

Infecção do trato urinário




Infecção urinária é o resultado da contaminação do trato urinário por agentes infecciosos (uropatógenos), em geral bactérias. É uma das infecções bacterianas mais frequentes em crianças, atingindo principalmente as meninas.

Como ocorre?

A infecção urinária ocorre por contaminação do trato urinário, em geral por bactérias provenientes do intestino. Essas bactérias se localizam inicialmente no períneo e genitália externa (vagina nas meninas e prepúcio nos meninos), de onde contaminam a região peri-uretral (em volta do canal da uretra) e invadem o trato urinário. As bactérias uropatogênicas são móveis e têm capacidade de aderir a receptores presentes nas células uroepiteliais dos indivíduos predispostos à infecção urinária, podendo causar infecção na bexiga e nas vias urinárias (cistite) ou atingir os rins (pielonefrite).

Quais são os sintomas?

O sintoma mais frequente é dor para urinar (disúria), que pode ser acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas: dificuldade para urinar (retenção urinária, hesitação) ou, ao contrário, “urina solta” – paciente sente vontade de ir várias vezes ao banheiro (polaciúria) ou tem a sensação de que “ficou um resto de urina” na bexiga (tenesmo); tem a sensação de que vai “perder urina” e corre para o banheiro (urgência) ou corre, mas “escapa urina no caminho” (urge-incontinência). Dor abdominal, mal-estar, náusea ou vômitos também podem estar presentes, porém, o sintoma mais importante é FEBRE acompanhando os sintomas urinários ou a “febre sem foco aparente da infecção” ao exame clínico após 24-48h do início desse sintoma. A febre pode ocorrer como único sintoma da infecção urinária em 10-15% dos casos, principalmente em crianças pequenas: recém-nascidos, lactentes e pré-escolares até por volta do 3º ano de vida.

Há formas de prevenir a ITU?

Sim. Manter aporte hídrico, hábitos alimentares, urinários e intestinais adequados é essencial para tratar a infecção urinária e evitar novos surtos, além da boa aderência ao tratamento indicado pelo médico.

Recomenda-se ingerir aproximadamente 30 ml/kg/dia de água, chá e sucos naturais (evitar refrigerantes e sucos artificiais). O café da manhã deve estar presente diariamente, incluindo frutas, verduras e outras fontes de fibras nas refeições.

O hábito urinário diurno é resultado de aprendizado, devendo-se orientar micções: ao acordar, durante o dia a cada 3h-4h e ao se deitar. As meninas devem urinar sempre sentadas, com os pés apoiados (colocar, se necessário, um apoio para os pés), para que relaxem a musculatura perineal, permitindo o esvaziamento completo da bexiga.

O hábito intestinal também é resultado de aprendizado e de boa alimentação. Em geral, é diário, pastoso e realizado sem esforço, sem catarro, gordura (fezes que boiam) ou sangue.

A orientação de boa higiene perineal pode evitar erros no diagnóstico da infecção urinária, “falsa infecção urinária”. A dúvida diagnóstica ocorre porque a inflamação perineal (vulvovaginites, balanopostites ou dermatites de diversas causas) pode causar sintomas urinários, presentes em 30 a 50% dos pacientes. Quando a infecção ocorre com muita frequência (infecção urinária de repetição), apesar dessas medidas, podemos indicar, individualmente: antibioticoterapia profilática, frutas berry (camberry), pré ou probióticos (lactobacilos), lavagem vesical, etc., porém os resultados ainda são controversos.

É possível realizar tratamento?

A infecção urinária, na maioria dos casos, é resultado de contaminação domiciliar (por uma bactéria comunitária) e não complicada (sem associação com malformações, cálculos, cateteres, etc.), sendo, portanto, sensível a grande número de antibióticos. A melhora dos sintomas, com desaparecimento da febre, ocorre em aproximadamente 48h a 72h após o início de terapêutica adequada. Sempre que possível indicamos antibióticos por via oral, melhorando a aderência ao tratamento.

Se não for tratada quais consequências podem ocorrer?

Infecções urinárias que atingem o parênquima renal (pielonefrite), que não são diagnosticadas e tratadas precocemente, poderão evoluir com cicatrizes renais (cicatriz pielonefrítica). Essas cicatrizes se formam principalmente em crianças pequenas, em especial neonatos e lactentes. Pielonefrites de repetição, presentes em cerca de 30% dos casos, podem formar diversas cicatrizes no mesmo rim, causando perda progressiva da função renal. Os sintomas da doença renal crônica só se manifestam quando os dois rins foram danificados. Em geral é só na adolescência e no adulto jovem que veremos os primeiros sinais e sintomas da doença renal crônica, frequentemente acompanhada de hipertensão e proteinúria. Essa evolução pode ocorrer em cerca de 10-15% dos pacientes que apresentaram infecções urinárias de repetição.

Há fatores que fazem com que uma pessoa tenha maior propensão à infecção urinária?

Sim, a infecção urinária ocorre em indivíduos predispostos por múltiplos fatores: constitucionais: hereditários (genéticos), imunológicos (relacionados à defesa local e sistêmica do organismo), associados a malformações do trato urinário, a cálculos, etc.; alterações funcionais que alterem a urodinâmica, tais como: baixa ingesta hídrica e retenção voluntária de urina, constipação intestinal, etc.; fatores ambientais que aumentem a predisposição à infecção urinária, por exemplo: uso indiscriminado de antibióticos; ou proteja o indivíduo, como aleitamento materno exclusivo.

Eliana Guidoni - CRM 53612 - possui Doutorado em Medicina (Pediatria) pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Mestrado em Medicina (Pediatria) pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e atualmente é Professor instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Médica Assistente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

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