quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Alcoolismo: qual a diferença entre hábito e dependência?



Como funciona a dependência psicológica do álcool?

A dependência psicológica se caracteriza por uma voracidade contínua ou intermitente pela substância, neste caso o álcool, com a finalidade de evitar um estado disfórico, ou seja, mal-estar provocado pela ansiedade.

Qual a diferença entre hábito e dependência?

O hábito é uma tendência (inclinação, propensão), pela repetição de um procedimento, por ex., ter o hábito de escovar os dentes após as refeições, ou ter o hábito de comer salada antes dos pratos quentes ou tomar banho pela manhã antes de sair para o trabalho. Nesse caso, se houver mudanças no hábito, como deixar de escovar os dentes após as refeições, ou comer a salada depois dos pratos quentes ou tomar banho no final do dia, essas mudanças não trarão comprometimentos maiores, como ansiedade, tristeza, depressão e sintomas físicos como tremores, insônia, náuseas. Isso não ocorre na dependência. Como o próprio termo diz, a pessoa fica dependente, subordinada física e psicologicamente, e apresenta os sintomas da abstinência.

Por que o alcoolista se sente angustiado quando não satisfaz seu vício?

No início a pessoa bebe na busca pelo prazer e uma dose de bebida é suficiente para dar uma leve sensação de tranquilidade. Com o passar do tempo essa dose já não é suficiente e é preciso aumentá-la para se obter a mesma sensação. Isso significa que o indivíduo está desenvolvendo tolerância ao álcool. Quanto mais se eleva a dose do álcool para suprir a tolerância, mais alta ela fica, e maiores doses são necessárias. A tolerância acontece antes da dependência e, quanto maior a tolerância, maior a dependência que ocorre na sequência. Além dessa busca inicial pelo prazer, com o passar do tempo e a instalação da tolerância, o indivíduo busca a bebida para evitar situações de desprazer. Assim, a pessoa não consegue parar de beber, pois ao experimentar ficar sem a bebida sente sintomas desagradáveis da abstinência, e então volta a beber para não ter essas sensações.

Quais são os sinais que indicam uma dependência do álcool?

A pessoa torna-se dependente quando ela não consegue por si mesma diminuir ou suspender o consumo de álcool.

Quais são as fases que levam uma pessoa a ser dependente do álcool? Ela simplesmente vira alcoolista ou há etapas que a fazem ter a dependência?

Como citado anteriormente, no início a pessoa bebe “socialmente”, pela busca do prazer, e aos poucos vai aumentando a dose para prover a tolerância. A pessoa nega e não admite sua condição de alcoolista, e diz que bebe socialmente, e isso dificulta o início de um tratamento. Aparecem mudanças no comportamento, como falta de diálogo com a esposa ou marido, irritações, explosões de raiva, desinteresse pelo parceiro. O álcool pode ser um veículo para desinibi-lo sexualmente ou para poupá-lo da relação. Na vida profissional pode tornar-se mais impaciente, irritável, passa a ter atrasos e faltas ou chega com cheiro de bebida. Pode envolver-se em acidentes automobilísticos por embriaguez e outros acidentes decorrentes de quedas. Nessa fase o indivíduo já perdeu o controle da bebida e essa passa a dominá-lo, ou seja, está dependente. Outros sintomas aparecem, como perda e lapsos de memória, vômitos, dores abdominais, diarreia, comprometimentos do fígado que se agravam e levam à cirrose hepática, problemas cardíacos e neurológicos, câncer de bexiga e laringe, perda de força nos membros, predisposição a infecções e até mesmo convulsões. Estudos mostram que pessoas com parentes de primeiro grau que tiveram ou têm problemas relacionados ao álcool apresentam três a quatro vezes maior probabilidade de terem um transtorno relacionado ao álcool do que pacientes sem essa história familiar. Mas qualquer pessoa pode se tornar um alcoolista. Assim, o álcool deve sempre ser evitado, pois é uma droga.

Psicologicamente, como um dependente do álcool se porta diante do mundo?

Pessoas com uma autocrítica muito elevada podem fazer uso do álcool, como uma maneira de aliviar o estresse inconsciente e diminuir a ansiedade. A personalidade de uma pessoa com transtorno relacionado ao álcool pode ser descrita como tímida, isolada, irritável, impaciente, ansiosa, hipersensível e sexualmente reprimida. A pessoa pode também fazer uso de álcool para diminuir a tensão e ansiedade decorrentes de um sofrimento psíquico. O consumo de álcool proporciona a sensação de elevação do sentimento de poder e autoestima, que o alcoolista não sente se estiver sem a bebida.

Um alcoolista recuperado está totalmente curado? Que cuidados devem-se tomar?

O alcoolismo não tem cura e, portanto, o acompanhamento a esse paciente deve ser contínuo.


É necessário um acompanhamento psicológico para aquele que quer parar de ser dependente do álcool? Ou ele consegue parar sozinho, quando quiser?

O alcoolista nega sua dependência e cria a ilusão de que pode parar sozinho, quando quiser, mas isso não é verdade. Ele precisa da ajuda externa para auxiliá-lo a recuperar-se e abster-se da bebida.

A frequência em grupos como de Alcoólicos Anônimos (AA) ou Antialcoólicos é muito importante e eficiente, e ajuda o paciente a ter maior consciência do seu transtorno e persistir na abstinência. A psicoterapia vai ajudá-lo a recuperar sua autoestima e a lidar de uma forma mais adequada com os fatores psicológicos e interpessoais que causaram sofrimento em sua vida. Tratamento médico ou psiquiátrico pode ser necessário, no período inicial de abstinência, como também pelos danos causados fisicamente pelo abuso da bebida. A família também deve ser tratada, pois está envolvida emocionalmente e é codependente do paciente. Este age e a família reage. Todos vivem em função do dependente. Os grupos familiares Al-Anom e Alateen para os adolescentes se dedicam a auxiliar as pessoas envolvidas com o dependente alcoólico. A ajuda psicológica também pode ser necessária.

Sites a serem consultados:

www.alcoolicosanonimos.org.br (Alcoólicos Anônimos)

www.al-anom.org.br (Grupos familiares e amigos de alcoólicos)

www.aaesp.org.br (Associação Antialcoólica do Estado de São Paulo)

www.antialcoolica.org.br (Associação Antialcoólica do Brasil)

Dra. Rita Maria Henriques da Silva é psicóloga clínica. CRP 06/24119-8

FONTE: IDMED

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