quinta-feira, dezembro 09, 2010

Dores musculares nas atividades físicas



Por que sentimos dor após iniciarmos uma atividade física frequente?

Antes de tudo é importante esclarecer que existem dois tipos de dor muscular:

Dor aguda - inicia-se durante a atividade física e cessa logo após o término da mesma. Parece ser resultado da acidificação do meio intracelular promovido pela atividade física intensa.

Dor muscular de início tardio - surge normalmente 24 horas depois da realização do exercício, perdurando por cerca de 3 dias, mas em casos extremos pode atingir 4-7 dias. Ocorre devido à lesão no tecido muscular e conjuntivo; ao aumento do íon cálcio celular que se acumula nas mitocôndrias, prejudicando a produção de ATP, ou ao cálcio que permanece no citosol (líquido que preenche o citoplasma) da célula, ativando proteases (enzimas que “quebram” proteínas celulares); ao processo inflamatório consequente à degradação das proteínas celulares, que favorece o edema (retenção de líquido) e estimula as terminações nervosas de dor.

O sedentarismo influencia em sentir mais dores após começar a fazer atividades físicas?

Sim, o sedentarismo é um fator que contribui para o surgimento tanto da dor muscular aguda quanto da de início tardio. Isso se deve à falta de preparo dos músculos que estão sendo exercitados, tornando a sobrecarga de trabalho mais comum em sedentários que em pessoas exercitadas. As dores musculares podem ser reduzidas com a adoção de medidas simples, como:

- sobrecarga progressiva de intensidade e de volume de exercícios nas primeiras semanas, evitando-se exercícios com contrações excêntricas (quando um músculo alonga-se durante a contração);

- realizar aquecimento, incluindo alongamentos, pois preparam e aquecem os músculos e articulações para o estresse a que serão submetidos;

- não parar o exercício abruptamente, realizando uma volta à calma e alongamento após as sessões de exercício;

- massagens para aquecer antes do exercício ou para relaxar após o mesmo.

É importante lembrar que o fato da pessoa praticar atividades físicas constantemente ou de ser um atleta não a exclui da possibilidade de sofrer dores musculares, basta que se ultrapassem os limites de sobrecarga do músculo. Para que o corpo obtenha as melhoras promovidas pelo exercício, a sobrecarga deve acontecer de forma progressiva, sem exageros. Neste caso, nada mais indicado que procurar a orientação de um professor de educação física, que irá avaliar a aptidão física do indivíduo para depois prescrever exercícios adequados à sua condição.

Quanto tempo demora para o corpo se adaptar às atividades?

Com poucos dias já são observadas mudanças bioquímicas e neurais nos músculos exercitados. O processo de adaptação muscular é complexo, sendo necessária a continuidade do exercício para que possamos observar mudanças estruturais nos músculos. Com cerca de 2 semanas de treinamento foram relatados ganhos de força associados a fatores neurais e com 4 semanas a hipertrofia muscular. É importante ressaltar que essas adaptações são dependentes do tipo e da intensidade de exercício, além de fatores alimentares e genéticos, podendo ocorrer mais lentamente ou rapidamente, dependendo do caso.

Como continuar com o treinamento mesmo sentindo dores? Diminuir o ritmo até o corpo se acostumar é um método eficaz?

Quando a dor for muito intensa, o ideal é que haja pelo menos repouso da musculatura afetada até que a dor diminua de intensidade (avaliada sem o uso de analgésicos), para que se evitem lesões subsequentes por excesso de sobrecarga. Neste caso, por exemplo, a dor na musculatura das pernas não impede que se realizem exercícios com os braços ou com outras partes do corpo. A musculatura deve voltar a ser estimulada progressivamente logo que a dor diminua, evitando excessos de sobrecarga através de aumentos escalonados de intensidade e de volume de exercício. Uma atenção especial pode ser dada ao aquecimento e alongamento prévios à sessão principal de exercícios. Dessa forma, as adaptações ocorrerão um pouco mais lentamente, porém de modo mais seguro.

Compressas de gelo podem ajudar a combater as dores?

Sim, pois o frio é capaz de atordoar os terminais nervosos responsáveis pela dor, além de diminuir o processo inflamatório e o edema gerados pela lesão muscular.

Referências

- Drinkwater, BL. Mulheres no Esporte. Ed. Guanabara Koogan, págs. 167-192; 2004.

- McArdle WD; Katch FI & Katch VL. Fisiologia do Exercício Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Ed. Guanabara Koogan, 5ª edição: págs. 543-550; 2001.

- Oliveira MNL, Gava AD, Salvini TF. O efeito da crioterapia e da compressão intermitente no músculo lesado de ratos: uma análise morfométrica. Rev. Bras. Fisioterapia 11(5):403-9, 2009.

- Pollock ML & Hilmore JH. Exercícios na saúde e na doença - Avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Ed. Medsi, 2ª edição: págs. 211-12, 614; 1993.

- Powers SK & Howley ET. Fisiologia do Exercício - Teoria e adaptação ao condicionamento e ao desempenho. Ed Manole, 3ª edição: págs. 402-3, 2000.

- Wilmore JH & Costill DL. Physiology of Sport and Exercise. Ed. Human Kinetics, 2ª edição: págs. 89-100, 1999.

Elen Aguiar Chaves possui Graduação em Educação Física (Licenciatura) - UFRJ; Mestrado e Doutorado em Ciências Biológicas - Fisiologia - UFRJ (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho). Atua como pesquisadora visitante do Laboratório de Biologia Muscular na Escola de Educação Física e Desportos - UFRJ. Contato:
chavesea@yahoo.com.br
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