terça-feira, março 22, 2011

Como a mentira está inserida na sociedade hoje?





A mentira faz parte da experiência de todos os seres humanos. Em uma grande parte das vezes somos vítimas dela nas situações cotidianas, como nas compras que realizamos ou nas situações laborais. Outro cenário é sermos protagonistas da mentira, contando algumas lorotas aqui e ali. Em todos os casos, é impossível viver sem contato com a mentira.

Nesse contexto, é importante entender que nem todas as mentiras que enfrentamos têm alto poder destrutivo. A mentira na qual devemos prestar muita atenção é aquela que é produzida para nos causar prejuízos. Felizmente, não estamos sujeitos a esse tipo de engano com muita frequência e, se estamos, podemos tomar algumas medidas para diminuir os riscos que corremos.

No entanto, os estudos científicos mais recentes nos indicam que 15% das pessoas possuem uma habilidade especial para não deixar transparecer os sinais clássicos da mentira. Esse é um dado significativo para ficarmos alertas e procurarmos reduzir os comportamentos que podem contribuir para que alguém seja enganado, como, por exemplo: adquirir bens sem ter as informações suficientes ou obtê-las apenas de uma fonte; acreditar na fantasia de que nunca será enganado; agir de impulso e motivado pela ganância ou vaidade, somente para citar alguns.

Como ela influencia o comportamento das pessoas?

A mentira influencia o nosso comportamento de muitas formas. O hábito de mentir entra em nossas vidas por muitas “portas”, como a necessidade de ser mais persuasivo, a vontade de ganhar competições, que, por si só, não são situações que envolvam a mentira, mas criam condições para que uma pessoa resolva mentir. Persuadir pessoas é uma das habilidades mais desejadas e valorizadas no mercado de trabalho. Os órgãos de defesa do consumidor registram dezenas de reclamações de pessoas que se viram lesadas ao adquirir um produto sobre o qual lhes forneceram informações falsas ou, na melhor das hipóteses, distorcidas.

Diante disso, a contramedida mais eficaz é conhecer suas próprias vulnerabilidades. Se uma pessoa costuma decidir rápido, com base em poucas informações e provenientes de uma única fonte, deve procurar alterar esse hábito, caso contrário será presa fácil dos profissionais da persuasão.

Como identificar um mentiroso?

Apesar de não existir um único e decisivo sinal da mentira, existem indicadores que podem servir de base para as nossas avaliações. Esses indicadores devem sempre ser considerados em seu contexto, uma vez que não há um “nariz de Pinóquio” que cresce quando alguém mente.

Uma boa parte dos indicadores da mentira levantados pela ciência tem relação com a ativação do sistema nervoso autônomo. Essa observação se baseia no fato de que quando mentimos nosso sistema nervoso se ativa, pois sabemos que estamos torcendo fatos, escondendo ou criando informação. Nosso corpo demonstra agitação, suor, ruborização, respiração e batimentos cardíacos acelerados e dilatação da pupila, entre outros sinais visíveis que tenham a mesma origem.

No entanto, é necessário ser cuidadoso, pois quaisquer desses sinais, ou mesmo todos eles em conjunto, podem não ter qualquer relação com a mentira. Vamos supor, por exemplo, que alguém esteja realizando uma entrevista de emprego. A própria entrevista em si pode ser suficiente para desencadear esses sinais.

Outra técnica utilizada para identificar sinais da mentira é observar o que chamamos de “carga cognitiva”. Mentir não é fácil. Além de criar uma “versão” de fatos que não ocorreram, o mentiroso tem que conectá-los, fornecer detalhes e ainda controlar o seu sistema nervoso. Para atingir esse feito, o mentiroso torna-se mais lento, pois tem que lidar com muita informação e, adicionalmente, não cair em contradição. Nesse caminho, a única solução é diminuir a velocidade da fala, ganhar tempo transformando perguntas em parte das respostas, ser o mais vago possível e evitar o contato com o interlocutor.

No entanto, como anteriormente referido, os estudos científicos indicam que 15% da população não apresenta essa redução de velocidade ao elaborar fatos que não ocorreram, controlam bem os sinais da agitação causada pela descarga de adrenalina e são bastante persuasivos. Isso não os torna mentirosos, mas indica a capacidade para encobrir os sinais da mentira. Mesmo diante desse contexto, podemos ficar tranquilos, pois 85% da população mente muito mal, o que nos dá chance de nos sairmos bem, e o mentiroso profissional tem predileção por certos perfis, como os gananciosos e vaidosos, que são muito mais fáceis de enganar do que pessoas com outros perfis.

Quais profissões exigem mais "mentiras" durante o período de trabalho?

Essa é uma pergunta interessante. Creio que a melhor opção é tentar evitar todas as formas da mentira. No entanto, a verdade pode ser, em alguns momentos, muito cruel. As profissões que lidam com notícias enfrentarão sempre os dilemas morais relacionados com a mentira e a verdade. Profissionais de saúde, por exemplo, em algum momento serão portadores de notícias sobre uma doença devastadora e deverão decidir o que contar e como contar. Em alguns países, profissionais da segurança pública são autorizados a mentir para conseguirem uma confissão. Felizmente, isso não é bem aceito em nossa cultura.

Não consigo imaginar um agente secreto desempenhando seu papel sem viver algumas mentiras. Igualmente, não consigo pensar como seria a vida de um ator que não soubesse separar a sua vida real dos papéis artísticos que desempenha.

Por outro lado, alguns profissionais devem se capacitar para identificar as mentiras. No contexto da saúde, da segurança pública e da justiça, o desenvolvimento dessas habilidades é fundamental, pois diagnósticos, depoimentos e decisões serão muito mais precisos. No contexto da psicologia clínica, por exemplo, pessoas mentem para seus terapeutas pela própria incapacidade em lidar com as suas emoções. O terapeuta, por outro lado, não precisa se preocupar, necessariamente, com a verdade do que lhe foi contado, mas com o impacto que as mentiras podem causar no processo psicoterapêutico em si. Dessa forma, se ficar atento e conseguir entender o contexto dessas mentiras, os motivos pelos quais são contadas e as emoções que as permeiam, poderá contribuir de forma mais técnica e produtiva para o sucesso da terapia. Igual raciocínio pode ser realizado para outros profissionais da saúde, da segurança pública e da justiça.

Existe algum caso em que a mentira pode ser considerada algo bom?

Essa é uma pergunta que exige julgamentos morais. Tais questões admitem diversas respostas, dependendo das crenças e valores da pessoa que a responde. Existem alguns exemplos em que mentiras são empregadas para atingir um “bem maior”. Um exemplo disso foi uma operação de inteligência, realizada pelos britânicos durante a Segunda Grande Guerra, com a intenção de desviar a atenção dos alemães sobre o possível local do desembarque aliado, que, efetivamente, ocorreu na Sicília. Especialistas militares avaliam que o êxito dessa operação, totalmente baseada em mentiras, poupou milhares de vidas, tanto das tropas aliadas quanto das tropas alemãs e italianas. Algumas pessoas acreditam que poupar a vida desses soldados é justificativa suficiente para as mentiras que os britânicos entregaram para os alemães. Outros exemplos semelhantes podem ser trazidos. No entanto, como se trata do resultado de julgamentos morais, outras pessoas podem entender que é inadmissível mentir, ainda que para preservar a vida. De fato, é uma decisão pessoal.


FONTE : IDMED

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