terça-feira, janeiro 25, 2011

Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e Câncer de mama: qual a relação?

O diagnóstico de câncer de mama tem sido considerado uma experiência inesperada e incontrolável pela maioria das mulheres entrevistadas antes dos tratamentos, durante o pós-operatório da mastectomia e mesmo muitos anos após a cura. Além do medo da morte e da perda da mama, as mulheres se deparam com vários estressores, como os procedimentos diagnósticos (biópsias, mamotomia), tratamentos invasivos (quadrantectomia e mastectomia), efeitos colaterais e aversivos da quimioterapia e radioterapia (fadiga, perda do cabelo, náusea) e repercussões na sexualidade e fertilidade. As manifestações de ansiedade e medo das possíveis recorrências persistem durante e após os tratamentos, com a permanência, em alguns pacientes, de sintomas crônicos de estresse. Quando os sintomas de estresse agudo ou crônico não são tratados, podem contribuir para o sofrimento emocional e redução da qualidade de vida.

As características descritas para explicar o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (veja aqui) também estão presentes e potencialmente descrevem a experiência associada ao câncer, como aparecimento imprevisível, ameaça de morte, tratamentos desfigurantes e aversivos, isolamento social, desamparo, as quais podem promover um campo fértil para o surgimento desse transtorno.

Os sintomas de hiperestimulação em mulheres recém-diagnosticadas, principalmente a hipervigilância, podem ser atribuídos ao aparecimento do câncer, considerado incontrolável e inesperado por mulheres que estavam no início do tratamento. A imprevisibilidade e a impossibilidade de controle podem repercutir na sensação de “segurança” das mulheres, aumentando a atenção para os sintomas somáticos e reduzindo a concentração para as outras atividades, levando à irritabilidade e repercutindo no funcionamento social.

A incerteza prognóstica associada ao diagnóstico de câncer pode impedir que a correção da informação sobre a segurança do sujeito seja integrada na sua “rede de medo”. Quando um evento é inesperado, maior é a chance do desenvolvimento de sintomas de TEPT. Quando a recorrência do câncer era inesperada naqueles pacientes que tinham melhor prognóstico do câncer, a incidência de sintomas de estresse pós-traumático era maior do que naqueles pacientes que já sabiam que havia a possibilidade de recorrência do câncer.

Sara Mota Borges Bottino – CRM/SP 68701 – é graduada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia e mestre em Psiquiatria pela FMUSP. Possui distinção em Psico-Oncologia pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Atua como psiquiatra e psicoterapeuta do Centro de Referência da Saúde da Mulher, e supervisionando residentes de ginecologia e mastologia. Psiquiatra do Instituto do Câncer de São Paulo.

FONTE: IDMED

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