terça-feira, janeiro 25, 2011

Os juros nossos de cada dia



Que os juros reais praticados no Brasil são um dos maiores do mundo, todo mundo sabe. O "Financial Times" garante que juros maiores que os nossos só os da Croácia. A corretora Cruzeiro do Sul analisou os juros de 40 países e concluiu que o nosso é o primeirão. Com a alta de 0,5% adotada na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária, o Copom, a taxa de juros passou de 10,75% para 11,25% e, descontada a inflação, os juros reais passaram a ser de 5,5% ao ano. Como comparação, basta citar que os juros reais da Austrália são de 1,9% e os da África do Sul de 1,8% ao ano. Dos 40 países analisados pela Cruzeiro do Sul, somente 12 praticam juros reais positivos.

Diante desse quadro, fica a pergunta: por que sobem os juros brasileiros se já são tão altos? Para o Copom, o objetivo é conter a trajetória de alta da inflação provocada pelos preços internacionais de commodities, entre as quais estão os alimentos, pela demanda aquecida e pelos gastos do governo. Como estão fora de nosso controle os preços de commodities e reduzir os gastos do governo é um sonho impossível, o caminho mais curto encontrado pelo Copom para conter a inflação é dar uma freada no consumo. Com o aumento dos juros, o crédito para famílias e empresas fica mais caro, o que provoca a diminuição das compras e inibe o aumento dos preços das mercadorias.

Mas a alta de juros tem efeitos colaterais perversos, além de reduzir a renda dos brasileiros. O governo, que também é devedor, paga mais juros e, pelas contas da Fiesp, o aumento de 0,5 ponto percentual representa um gasto adicional para os cofres públicos de R$ 200 bilhões no ano. Juros mais altos atraem mais investidores estrangeiros, o que aumenta a valorização do real perante o dólar e diminui a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. O aumento das importações, por outro lado, prejudica a indústria nacional, o que gera desemprego.

É por essas razões que os especialistas indicam que o melhor caminho para combater a inflação não é a alta dos juros, mas a redução dos gastos do governo. Infelizmente o governo sempre evita este caminho e prefere o atalho de aumentar os juros ou, como fez em dezembro, elevar o compulsório dos bancos e inibir a oferta de crédito, o que acaba também onerando os brasileiros.

O Copom, na sua decisão de quarta-feira, anuncia que o ciclo de alta dos juros está apenas começando. Ou seja, outros aumentos virão. Tomara que não erre na dose, pois, se ninguém deseja a volta da inflação, ninguém também quer que o país mergulhe em uma nova fase de redução da atividade econômica, de recessão e de desemprego.

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