segunda-feira, junho 06, 2011

Xixi na cama: como lidar com a criança?

Falaremos sobre um tema que costuma preocupar os pais e que os leva à busca de soluções nem sempre eficazes o bastante ou mesmo que não apresentam qualquer base científica adequada ou que contemple a multiplicidade de suas causas, podendo piorar a situação: o conhecido “xixi na cama”.

Este último é denominado “enurese noturna” e somente deve ser considerado como tal quando ocorrer pelo menos duas vezes por semana, durante minimamente três meses. Além disso, a criança deve ter cinco anos ou mais para que se considere o “xixi na cama” um problema de fato. Até os cinco anos de idade, a criança pode ainda estar em processo de amadurecimento do mecanismo urinário.

Ainda que tenhamos esses dados a respeito de a enurese noturna dever tornar-se algo a ser tratado nas condições acima mencionadas, sempre que se perceber sofrimento, é necessário que se procure a ajuda de um profissional.

Em primeiro lugar, é preciso descartar questões de ordem fisiológica, buscando o auxílio de um pediatra, o qual, por sua vez, dependendo do quadro apresentado pela criança ou adolescente, possivelmente o encaminhará a outro especialista, como o urologista. Este último poderá, também de acordo com o diagnóstico obtido, encaminhar o paciente a outros especialistas.

Porém, caso a criança ou adolescente venha apresentando a enurese de forma isolada, sem outros sintomas concomitantes, ela raramente apresentará origem anatômica, o que, todavia, não exclui a necessidade de uma investigação desta natureza.

Como o “xixi na cama” (enurese noturna) apresenta a possibilidade de uma diversidade bastante considerável em termos de suas causas e consequências, ainda há incógnitas relacionadas a esse tema, cientificamente falando, devendo ser alvo de ainda mais pesquisas nesse âmbito.

É primordial salientar o fato de que algumas pesquisas apontam para um baixo índice de pessoas que procuram ajuda profissional, buscando, muitas vezes, a realização de receitas “caseiras”, com o objetivo de resolver o problema.

Nesse sentido, é preciso que os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente que apresenta esse quadro ou mesmo os pais cujos filhos ainda são bebês tenham algumas informações fundamentais a seu respeito:

• O treino do controle esfincteriano deve ocorrer sob a orientação do pediatra, a fim de que ele não seja feito precocemente, o que poderá culminar em um quadro de enurese noturna.

• O “xixi na cama” pode ocorrer por causa de fatores psicológicos, tais como: sofrimento com acontecimentos psiquicamente difíceis de se lidar, entre os três e os quatro anos de idade, fase de inigualável importância para o desenvolvimento infantil; podemos citar aqui: separação dos pais, morte de um ente querido, nascimento de um irmão, mudança de casa/cidade/país, ingresso na escola, acidentes, hospitalizações, cirurgias.

• Ele acomete mais meninos do que meninas, até os onze anos de idade, quando a prevalência entre ambos os gêneros passa a se equiparar.

• Em qualquer hipótese quanto à etiologia, ou seja, em relação ao que supostamente tenha provocado o quadro de enurese noturna, é absolutamente necessário um tratamento psicológico, devido às consequências geradas por ela; a criança ou adolescente acaba por não poder ter uma rotina tal como desejaria ter: não se sente seguro para dormir na casa de parentes ou amigos, pode sentir-se muito envergonhado, ansioso, angustiado, deprimido e apresentar uma baixa autoestima.

Passemos, então, a esclarecer alguns pontos psicológicos importantes do desenvolvimento infantil aos quais os cuidadores da criança, sobretudo a mãe, devem se atentar, procurando a compreensão de condições que podem colaborar para o desencadeamento da enurese noturna, comumente chamada de “xixi na cama”:

• Desde seu nascimento, a criança costuma, em condições ditas “normais”, receber tudo aquilo de que necessita para sentir-se satisfeita.

• Em um certo momento, ela começa a perceber que não pode prosseguir apenas sentindo satisfação no meio em que vive, precisando passar a aprender a esperar para que seus desejos sejam realizados. O sucesso dessa aprendizagem depende, diretamente, das relações estabelecidas com a família e, em primeiro lugar, com a mãe.

• Ainda bem pequena, a criança passa a ter prazer em eliminar as fezes e a urina, brincando com elas e lidando com essa situação como se ambas fossem produções a serem oferecidas ao ambiente. O alívio e a satisfação obtidos por meio de suas funções esfincterianas e dos resultados de suas obras (xixi e cocô) vão sendo substituídos por uma etapa em que ela começa a ser treinada para controlar tais funções. Ou seja, anteriormente, a criança tinha liberdade e prazer com suas “produções”. Agora, deve desenvolver atitudes socialmente aceitas, tendo de saber lidar e obedecer a limites. Nesta fase, a mãe desempenha papel de extrema importância.

• A fase de que falamos exige uma sensibilidade materna um tanto acurada, para que se obtenha sucesso no treino do controle miccional (“fazer xixi”), o que implica perceber a fase na qual a criança se encontra, o seu próprio “tempo” para adquirir essa aprendizagem. Com o fato de a mãe ter consciência de que cada criança, ainda que seja da mesma casa, possui seu ritmo particular de desenvolver-se, ela conseguirá ficar bem menos ansiosa do que poderia ficar para a conquista do controle de que estamos falando, por parte de seu filho. Assim, ela poderá transmitir a mesma tranquilidade à criança, facilitando sua aquisição até, no máximo, os cinco anos, quando já deverá ter amadurecido as funções eliminatórias.

Em termos de se evitar agravar a enurese noturna, podemos falar em determinadas posturas que precisam ser adotadas, além da busca de ajuda profissional:

• Observar como têm se dado as relações sociais da criança/adolescente: procurando saber se ele sofre algum tipo de discriminação na escola, se há algum sinal de angústia frente a situações em que teria a oportunidade de participar de programas com amigos que exigiriam que dormisse fora de casa, etc.

• Não puni-lo diante dos episódios de “xixi na cama”.

• Conscientizar-se de que, independentemente das causas da enurese, ela própria trará consequências psicológicas que exigirão a ajuda do psicólogo, que, por sua vez, de acordo com cada caso e com cada psicodiagnóstico obtido, tratará de seu paciente de modo singular, respeitando sua individualidade e o contexto sociocultural no qual se insere.

• Colaborar para que os médicos especialistas envolvidos no tratamento (caso haja um diagnóstico de causa orgânica) possam interagir com o psicólogo.

• Orientar os familiares em relação a não fazer da enurese de um membro motivo de punição ou zombaria.

Enfim, é preciso saber que a enurese noturna não se trata de um modo de chamar atenção, ao menos não de forma consciente. Ela deve ser levada a sério como um sintoma, que precisa ser alvo de investigações, nos sentidos acima discorridos.

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