segunda-feira, maio 30, 2011

Os efeitos do cigarro sobre os dentes e a boca

Quais os perigos que a fumaça do cigarro representa para a saúde bucal?

O uso crônico de tabaco é considerado um fator de risco para uma série de doenças orais. Toda forma de uso de tabaco é comprovadamente prejudicial à saúde do homem e especialmente da boca. O consumo de cigarros, charutos ou produtos de tabaco mascado pode causar prejuízo à saúde bucal. A maioria das pesquisas encontradas na literatura é relacionada ao uso de tabaco na forma de cigarros.

Entre os principais danos à boca causados pelo fumo estão o câncer bucal, a doença periodontal e a halitose. O fumo também causa manchas nos dentes, língua e mucosas, deixando a boca com manchas escuras denominadas melanose do fumante. As defesas do organismo ficam diminuídas, tanto sistêmicas quanto locais, prejudicando a cicatrização de feridas e a osteointegração de implantes dentários.



O tabaco causa mau hálito?

Sim, os produtos da combustão do tabaco são uma das principais causas de mau hálito, também denominado halitose. Os odores da fumaça inalada são expelidos durante a fala e a respiração. O uso de cigarro, charuto, cachimbo, maconha ou tabaco mascado (fumo de rolo), associado a uma má higiene da boca, da língua e à presença de doença periodontal, pode tornar o hálito extremamente desagradável. Outro agravante é a diminuição do fluxo salivar (boca seca) causada por essas substâncias, diminuindo a “limpeza” fisiológica do próprio organismo, aumentando a halitose do paciente.



É possível perder os dentes devido ao fumo?

Sim, vários estudos comprovam a associação hábito de fumar com a doença periodontal. A doença periodontal é um processo inflamatório crônico da gengiva e/ou dos tecidos de suporte dos dentes, podendo levar à reabsorção óssea alveolar, ao aumento da mobilidade dental, à exposição das raízes e perda dos dentes.

A principal causa de doença periodontal é o acúmulo de placa bacteriana nas superfícies dos dentes. Essa placa é composta principalmente por bactérias que produzem toxinas que destroem os tecidos de suporte dos dentes (gengiva, cemento, osso e ligamento periodontal), causando gengivite (inflamação das gengivas) e periodontite (inflamação dos tecidos ao redor do dente). A periodontite, quando severa, afeta o osso, causando aumento da mobilidade e até mesmo a perda dos dentes.

O exato papel do tabaco sobre os tecidos periodontais tem sido amplamente investigado. Pesquisas afirmam que fumantes têm maior acúmulo de placa que não-fumantes e que as bactérias presentes nessa placa são mais agressivas, podendo causar formas mais graves de doença periodontal. Outros estudos afirmam que as toxinas presentes no cigarro podem induzir ou exacerbar a doença periodontal existente, além de prejudicar o tratamento, alterando a resposta imune local e diminuindo a ação dos fibroblastos na reparação dos tecidos lesados. A severidade da doença periodontal está relacionada com a duração e a quantidade de cigarros fumados por dia.



Por que a saúde bucal de um fumante é mais frágil do que a do não-fumante?

De acordo com o INCA, o consumo de tabaco causa aproximadamente 50 doenças diferentes e um fumante adoece em média 2 a 3 vezes mais que um não-fumante. Na composição do cigarro estão mais de 4.720 substâncias, dentre elas mais de 60 são capazes de causar danos ao nosso organismo. Na boca, o cigarro agride as células da mucosa e ainda diminui sua capacidade de cicatrização e de defesa, deixando-a mais sujeita à ação de agentes agressores como bactérias, vírus e fungos, além de conter substâncias carcinogênicas que aumentam a probabilidade do desenvolvimento de câncer bucal.



Por que os dentes e as gengivas escurecem?

Entre os componentes do cigarro está a nicotina, que se acumula nas superfícies dos dentes, causando uma pigmentação escura.

A pigmentação das mucosas é denominada melanose do fumante. A nicotina do cigarro estimula a produção de melanina, causando manchas acastanhadas, principalmente nas gengivas dos fumantes de cigarro e nas comissuras e nas bochechas dos fumantes de cachimbo. As mulheres são mais afetadas, e tem sido sugerido que tal fato se deva aos hormônios femininos. As pigmentações ocorrem mais em fumantes inveterados. Com a cessação do hábito de fumar as manchas na mucosa desaparecem gradativamente, mas pode levar até três anos para que isso ocorra.



O cigarro pode provocar problemas na salivação?

Sim. A saliva tem um papel importante na proteção da boca, do epitélio gastrointestinal e da orofaringe. Em sua composição estão substâncias que participam da limpeza da boca e do equilíbrio da microflora bucal. A diminuição de saliva aumenta o risco de cáries e a propensão à candidose bucal.

O cigarro causa diminuição na secreção salivar, deixando uma sensação de boca seca, denominada xerostomia. Esse sintoma provoca dificuldade na mastigação, deglutição e fonação, além de tornar a mucosa bucal mais sensível, podendo surgir feridas na boca e fissuras na língua.

Um estudo do Instituto de Tecnologia Technion-Israel, em Haifa, recriou os efeitos do cigarro em células cancerígenas na boca. Metade das amostras foi exposta somente ao fumo e outra a uma mistura de fumo e saliva. Os pesquisadores constataram que o cigarro combinado com a saliva produz mais danos às células que o cigarro separadamente.


O hábito de fumar pode causar que tipos de câncer na região da boca e da garganta?

O tabagismo está relacionado aos cânceres de lábio e da cavidade bucal (câncer de boca), faringe, laringe e esôfago. Dependendo do tipo e da quantidade de tabaco usado, os fumantes apresentam uma probabilidade 4 a 15 vezes maior de desenvolver câncer de boca do que os não-fumantes. Se a pessoa deixa de fumar esse risco decresce, mas somente após 10 anos sem fumar terá o mesmo risco de desenvolver a doença que uma pessoa que nunca fumou.

A causa do câncer não tem um único fator definido. Ela depende de uma série de fatores sistêmicos, como doenças sistêmicas e deficiências nutricionais, e de fatores externos aos quais o indivíduo se expõe voluntariamente, como o fumo, o álcool e os raios solares. Entre os pacientes que morrem em decorrência de câncer da cavidade bucal, 90% são fumantes.

O câncer de lábio é mais freqüente em pessoas de pele clara que se expõe por muito tempo ao sol sem proteção. A grande maioria (90%) dos casos ocorre no lábio inferior e aparece como uma ulceração indolor, endurecida, rígida e encrostada no vermelhão do lábio inferior.

Na boca as áreas mais afetadas são a língua e o assoalho da boca. As lesões aparecem inicialmente como pequenas feridas indolores que não cicatrizam, aumentos de volume (caroços, inchaços) ou manchas esbranquiçadas ou avermelhadas.

De acordo com as estimativas do INCA para 2008, o câncer de boca está em 5º lugar em incidência no Brasil, seguido pelo câncer de esôfago.



Há mudanças no paladar?

Sim, o fumante tem alterações no olfato e no paladar dos alimentos. O fumo causa atrofia das papilas gustativas do dorso da língua, ocasionando diminuição do paladar, especialmente de alimentos salgados.



Há riscos de cárie?

Ainda não há uma comprovação científica de uma relação direta entre prevalência de cáries e fumantes. Existem algumas hipóteses que sugerem que as modificações na saliva causadas pelo fumo diminuem o potencial de remineralização e limpeza da saliva, aumentando o risco de cárie. Alguns estudos mostraram que fumantes têm maior quantidade de acúmulo de placa bacteriana que não-fumantes e uma higiene bucal mais deficiente, além de uma diminuição das defesas do organismo, o que leva a um maior risco de doença periodontal, expondo as raízes dos dentes ao meio bucal e à ação de bactérias cariogênicas.

Um estudo de 2003 nos Estados Unidos demonstrou uma associação entre tabagismo passivo e cáries nos dentes decíduos (de leite). O tabagismo passivo foi avaliado pelo nível de um derivado da nicotina, a cotinina, presente na saliva de crianças expostas à fumaça de cigarros. O nível socioeconômico, os hábitos alimentares e de higiene bucal dos dois grupos foram similares. Foi encontrado que nas crianças expostas ao cigarro o pH da saliva era significantemente mais ácido, o que pode causar maior desenvolvimento de cáries. O estudo também encontrou que aproximadamente 32% das crianças expostas ao cigarro tinham cáries nas superfícies de seus dentes de leite, comparado com 18% das crianças não expostas.



Quais os tratamentos para combater alguns efeitos do cigarro?

Mais importante que tratar é prevenir, é orientar o paciente dos riscos para sua saúde e dos que o cercam e orientá-lo a parar de fumar. O dentista tem que estar ciente de sua importância como profissional de saúde na colaboração em campanhas antitabagistas e no diagnóstico precoce de lesões bucais, aumentando a chance de cura dos pacientes e diminuindo as sequelas dos tratamentos.

O fumante deve realizar visitas ao dentista periodicamente, fazendo um acompanhamento dos dentes, gengivas e principalmente da mucosa bucal. Existem tratamentos periodontais e restauradores para limitar os danos causados pelo cigarro e pela má higiene bucal. As manchas nos dentes podem ser removidas por limpeza profissional e clareamento dental, desde que o paciente pare de fumar.

O Estomatologista é o profissional dentista especializado, capaz de identificar lesões cancerizáveis e realizar biópsias ou coleta de células da lesão para um correto diagnóstico e realização dos tratamentos necessários.

O autoexame é outra arma importante que o paciente tem na prevenção do câncer bucal. Ele é feito pelo próprio paciente diante de um espelho, em ambiente iluminado, inspecionando-se todas as superfícies da boca, principalmente parte posterior da língua e assoalho bucal. O paciente deve procurar:



- Feridas ou úlceras que não cicatrizem por mais de 15 dias;

- Manchas ou placas esbranquiçadas que não são removidas por raspagem;

- Manchas ou placas avermelhadas;

- Lesões nodulares, endurecidas;

- Inchaços na boca ou no pescoço.



Esse exame não substitui o exame feito por um profissional especializado. Mesmo se você não encontrar nenhuma alteração, não deixe de consultar um cirurgião-dentista pelo menos uma vez ao ano.



Para prevenir o câncer bucal o fumante deve:

Reduzir o uso do cigarro e se possível até mesmo abandoná-lo. Devemos lembrar que os danos são proporcionais à quantidade de cigarros fumados.

Evitar a associação do fumo com o álcool, pois este aumenta os efeitos nocivos do cigarro.

Ter uma alimentação saudável, consumindo frutas, legumes e verduras.

Realizar consultas periódicas com o dentista e manter uma boa higiene bucal.

Cigarro: o que realmente funciona quando se quer parar?


A lei antifumo é capaz de fazer as pessoas pararem de fumar?

Restrições de locais onde o tabagismo é permitido fazem com que fumantes reduzam consumo. Aqueles que possuem baixa dependência e estão motivados poderão, se tentarem, conseguir deixar de fumar com mais facilidade do que costumam imaginar. Os que possuem alta dependência nicotínica podem ter dificuldades com esta redução do consumo necessária para se adaptar às novas condutas trazidas pela lei; a estes, recomenda-se procurar apoio profissional para que consigam deixar de fumar sob apoio comportamental e medicamentoso.

 
Quais são os benefícios da lei antifumo a curto e a longo prazo, tanto para o fumante quanto para aqueles que não fumam?

No curto prazo há o claro respeito ao direito de TODOS (fumantes ou não) de frequentarem ambientes fechados livres de fumaça de cigarro. Fumantes, ao terem que respeitar a lei, poderão experimentar maior facilidade para deixar de fumar, o que deveria ser aproveitado por todos como uma "oportuna janela de oportunidade" para a mudança de comportamento rumo à cessação do tabagismo.

No longo prazo há redução da ocorrência de doenças tabaco-relacionadas entre fumantes e não fumantes, ou seja, melhor qualidade de vida, redução de gastos desnecessários com a manutenção do tabagismo (que também ocorre quando se, pelo menos, reduz o consumo para respeitar a lei), redução de gastos públicos e privados com tratamentos de saúde, redução de absenteísmo nas empresas por doenças tabaco-relacionadas, redução de aposentadorias precoces com doenças tabaco-relacionadas, aumento da expectativa de vida dos que deixam de inalar a fumaça e, tão importante quanto as anteriores, conscientização da sociedade de que fumar é permitido, desde que não imponha aos não fumantes os riscos do tabagismo.

 
Medidas como imagens chocantes em embalagens de cigarro ajudam a reduzir o consumo de tabaco pelos fumantes?

As imagens de advertência nos maços de cigarros tem como objetivo alertar sobre os riscos do consumo. Portanto, possuem função educativa; não devemos interpretá-las como um método para redução do consumo de cigarros ou para tratamento do tabagismo. Mesmo assim, elas acabam indiretamente funcionando como motivadoras para a redução do consumo e para a cessação, tirando o fumante da contemplação e levando-os à prontidão para a mudança comportamental mais rapidamente que na ausência de qualquer intervenção.

 
Ao proibir propagandas de tabaco, o sistema consegue evitar que mais pessoas se tornem consumidoras da indústria do tabagismo?

Sim. Comprovadamente a redução da exposição de crianças e adolescentes às propagandas de cigarros limita a experimentação e, consequentemente, a iniciação tabagísticas. Isto já foi demonstrado em diversos estudos e vem esimulando governos do mundo inteiro a adotar estas restrições, já vigorando no Brasil há longa data.

 
É possível parar de fumar sem chicletes de nicotina e filtros para cigarro? Que medidas devem ser tomadas por aqueles que decidem tirar o cigarro de suas vidas?

Todos que desejam deixar de fumar devem tentar. Caso apresentem dificuldade, indica-se a busca de um profissional de saúde para solicitar orientações sobre como deixar de fumar. O tratamento consiste de orientações que motivem e orientem a mudança de comportamentos (intervenção cognitivo-comportamental) e o apoio farmacológico. Entre as opções farmacológicas disponíveis hoje estão as terapias de reposição nicotínica (gomas, adesivos e pastilhas), a bupropiona e a vareniclina, todas consideradas de primeira escolha para tratamento do tabagismo. Não há estudos que comprovem qualquer benefício em se usar filtros para deixar de fumar, desta forma não são recomendados pelos organismos nacionais e internacionais como alternativa terapêutica.

 
Grupos de apoio e centros de tratamento anti-tabaco são indicados em quais casos?

Estão indicados aos fumantes que já tentaram deixar de fumar e não conseguiram ou àqueles que têm receio em tentar sem apoio profissional especializado.

 
Terapias alternativas, como a hipnose e a acupuntura, são eficazes no tratamento do tabagismo?

Da mesma forma como os filtros, acupuntura e hipnose não apresentam estudos científicos que comprovem sua eficácia como tratamentos para o tabagismo. Estudos maiores e melhor delineados são aguardados.

É importante, para a pessoa que deseja fumar, sentir-se apoiado e impelido à parar de fumar? No caso de um marido querer parar de fumar, e a esposa continuar fumando: seria interessante a mulher parar também, ou ao menos parar de fumar ao lado do marido? Ou não faz diferença?

Sim. Quanto maior o apoio social (principalmente familiar), melhor. O sucesso no tratamento do tabagismo depende da motivação do fumante. Se ele não se sente apoiado pelos amigos e familiares, mais difícil será suportar as dificuldades que podem surgir durante o tratamento.

Com relação ao comportamento de cônjuges, recomenda-se que a iniciativa seja sempre valorizada e respeitada pelo(a) parceiro(a), não sendo necessário que os dois parem simultaneamente. Se quiserem tentar juntos, melhor, mas não é mandatório. O importante é que exista influência positiva, respeito, estímulo e valorização constantes.

 
É importante um acompanhamento psicológico para aquele que quer parar de fumar?

Não é necessário que o tratamento seja feito sempre com um(a) psicólogo(a). Qualquer profissional de saúde deve saber recomendar e orientar o fumante durante uma tentativa de deixar de fumar. Quando realizado acompanhamento em centros de referência, porém, recomenda-se que exista abordagem de todos os aspectos de interesse: psicológicos, médicos, nutricionais e relacionados à atividade física.


Como fazer alguém que não deseja parar de fumar, se livrar do vício?

Não é possível mudar comportamentos se não há motivação. Para deixar de fumar, portanto, é pressuposto essencial que o fumante manifeste este desejo.

Fernando Henrique defende regulamentação da maconha e causa polêmica

Ex-presidente conduz o documentário Quebrando o tabu. No filme, ex-presidentes reconhecem que falharam em suas políticas de combate às drogas.

Um ex-presidente da república roda o mundo, grava um documentário e levanta uma bandeira bem polêmica. Segundo ele, o consumo de maconha deveria ser regulamentado.

Sábado, 21 de maio, Centro de São Paulo. A Marcha da Maconha, proibida pela Justiça, vai às ruas e é reprimida pela polícia.

"Não adianta querer tratar um debate de ideias com porrada. A gente não vai aceitar, a gente vai continuar", argumenta o jornalista Júlio Delmanto.

As vozes pela descriminalização, ou até pela liberação da maconha, estão ganhando apoio de peso. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, já defendeu publicamente até a formação de cooperativas para o plantio de maconha.

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Diretor de Tropa de Elite diz ser a favor da legalização da maconha

E agora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, prestes a completar 80 anos, conduz um documentário que defende a descriminalização do uso de drogas e a regulação do uso da maconha.

Por que o presidente resolveu meter a mão nesse vespeiro? "Porque é um vespeiro. As pessoas não tem coragem de quebrar o tabu e dizer: vamos discutir a questão", diz Fernando Henrique Cardoso.

No filme "Quebrando o tabu", que estreia nesta semana, Fernando Henrique Cardoso e ex-presidentes do México, Ernesto Zedillo; da Colômbia, César Gaviria; e dos Estados Unidos, Jimmy Carter e Bill Clinton reconhecem: falharam em suas políticas de combate às drogas.

Perguntado sobre o motivo pelo qual não foi implementado em seu governo, Fernando Henrique Cardos responde: "Primeiro porque eu não tinha a consciência que tenho hoje. Segundo que eu também achava que a repressão era o caminho".

Todos concluem que a guerra mundial contra as drogas, iniciada há 40 anos, é uma guerra fracassada. Bilhões de dólares são gastos no mundo inteiro, mas o consumo cresce, e cresce o poder do tráfico, espalhando a violência. As armas constantemente recolhidas dos traficantes no Rio de Janeiro são a prova de que a polícia trabalha enxugando gelo. É preciso ir além das apreensões de drogas e do combate aos traficantes.

"Um ponto central é questionar a lógica de guerra, não é defender o uso da droga. É apenas dizer: ‘vamos ver, vamos pensar se não existem jeitos mais inteligentes e mais eficientes de lidar com esse assunto’", diz o diretor do filme Fernando Gronstein Andrade.

No Brasil, a maconha é a droga mais difundida. Consumida por 80% dos usuários de drogas; 5% da população adulta. Mas é inofensiva a ponto de ser legalizada?

"Não há droga inofensiva. Qualquer coisa depende da dose, da sensibilidade do indivíduo. Agora, entre as drogas usadas sem finalidade médica para fins de divertimento, para fins de recreação, a maconha é bastante segura", afirma Elisaldo Carlini,médico da Unifesp especializado em drogas.

Palavra de quem há mais de 40 anos estuda a questão e trata dependentes. O professor Elisaldo Carlini representa o Brasil nas comissões de drogas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das Nações Unidas.

"Defendo totalmente a descriminalização", diz Carlini.

"Eu sou contra porque quanto mais fácil você tornar a droga disponível na sociedade, maior será o consumo", defende o psiquiatra da Unifesp Ronaldo Laranjeira.

O professor Ronaldo Laranjeira trata de dependentes químicos há 35 anos. "Ela é uma droga perigosa. Um dos principais exemplos é que 10% de todos os adolescentes menores de 15 anos que experimentam com a maconha vão ter um quadro psicótico", afirma.

Na lista das drogas mais perigosas publicada na revista médica "Lancet", respeitada no mundo inteiro, a maconha aparece em 11º lugar, bem atrás do álcool e até mesmo do cigarro, que são vendidos legalmente.

"Álcool é mais letal do que maconha. Não se diz isso, mas é. Pelo menos os dados mostram isso. Então, temos que discutir e diferenciar, regular o que pode e o que não pode", defende o ex-presidente Fernando Henrique.

Regular não é o mesmo que legalizar. E foi isso que Fernando Henrique Cardoso descobriu indo para a Holanda. Lá a maconha é vendida em cafés. Mas o governo não legalizou o uso indiscriminado. Funciona assim: a regulamentação determina que você não pode consumir nas ruas, nem vender fora dos cafés; nos locais determinados, fuma-se maconha sem repressão policial.

"Na Holanda é muito interessante. Os meninos de colégio – eu conversei com eles - não têm curiosidade pela maconha, porque é livre", garante Fernando Henrique Cardoso.

O consumo de maconha é tolerado e, mesmo assim, vem caindo. Desde 2006, a lei brasileira já trocou a prisão por penas alternativas para quem é pego com drogas e considerado usuário, não traficante. Mas que quantidade de drogas, que situação caracteriza o tráfico? Isso a lei deixa a critério do juiz.

É uma linha difícil de estabelecer. Como o doutor Drauzio Varella explica no documentário: "Como a droga é criminalizada, é um crime você possuir a droga, não vão dez pessoas comprar se uma pode comprar e dividir entre as dez. E o menino que usa droga percebe que, dessa maneira, também se ele vender um pouquinho mais caro, a dele sai de graça", argumenta o médico no filme.

Nesse caso, o usuário vira traficante e acaba na prisão, onde, como se sabe, a droga circula facilmente.

Em Portugal, o consumo de entorpecentes não dá mais cadeia desde 2001. Mas há uma penalidade: o usuário tem que fazer tratamento médico e prestar serviço social.

"A maior parte dos que usam drogas quer sair dessa situação. E a existência de um caminho que não os leve à cadeia, mas que leve ao tratamento, é positiva", ressalta Fernando Henrique.

O ministro da Saúde de Portugal explica que dez anos depois o tratamento é gratuito para dependência em todo tipo de droga – da maconha ao crack.

"Dez anos depois, o que nós vemos? Os nossos jovens consomem menos drogas ilícitas", revela o ministro.

"Eu não vejo nenhum sentido em criminalizar o uso e a posse dessas drogas todas. É um caso de saúde, não é um caso de polícia", avalia Elisaldo Carlini.

Mas qual é a estrutura que o Brasil tem hoje para tratar seus dependentes?

"Essas pessoas ficam perambulando pelo sistema de saúde ou perambulando, literalmente, pelas ruas, no caso dos usuários de crack. E você fica desassistindo ativamente essa população", comenta Ronaldo Laranjeira.

O Ministério da Saúde já fez as contas do que falta para tratar dependentes químicos: 3,5 mil leitos hospitalares, 900 casas de acolhimento e 150 consultórios de rua, para chegar às cracolândias, por exemplo. Mas a previsão é atingir essa meta só em 2014.

"Como ministro da Saúde, tenho opinião como ministro. Exatamente isso: nós do Sistema Único de Saúde (SUS) precisamos reorganizar essa rede e ampliá-la rede para acolher usuários de drogas, sejam lícitas ou ilícitas", afirma Alexandre Padilha.

Na Suíça e na Holanda, existem os projetos chamados de redução de danos: dependentes de drogas pesadas, como heroína, recebem do governo a droga e agulhas limpas.

"É terrível ver isso. Mas você vê também que ali está um doente, não um criminoso", constata Fernando Henrique Cardoso.

Triste, mas é essa redução de danos que evita a transmissão de doenças infecciosas, mortes por overdose e a ligação dos usuários com o crime.

"Eu não estou pregando isso para o Brasil, porque a situação é diferente, o nível de cultura, riqueza e violência é diferente. Cada país tem que buscar seu caminho. É isso que eu acho fundamental. Quebrar o tabu, começar a discutir e ver o que nos fazemos com a droga", diz Fernando Henrique Cardoso.

Ouvindo um ex-usuário famoso, o documentário dá uma pista: campanhas de prevenção abertas e honestas podem funcionar.

"O grande perigo da droga é que ela mata a coisa mais importante que você vai precisar na vida: o seu poder de decidir. A única coisa que você tem na sua vida é o seu poder de decisão. Você quer isso ou quer aquilo? Seja aberto, seja honesto. Realmente, a droga é fantástica, você vai gostar. Mas cuidado, porque você não vai poder decidir mais nada. Basta isso", alerta o escritor Paulo Coelho.


Fonte: fantastico.globo.com

Anvisa aprova uso de vacina contra HPV para homens no Brasil

 

Além do combate às verrugas, a vacina foi eficiente em 85,6% dos casos para evitar a infecção persistente pelo vírus

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de uma vacina para combater o vírus do papiloma humano (HPV, na sigla em inglês) em homens de 9 a 26 anos. A aplicação é recomendada para quatro tipos do vírus, responsáveis por causar verrugas genitais. A substância não está disponível na rede pública e custa R$ 900.

O uso de vacinas contra o vírus em homens já existia no Brasil, com o remédio sendo prescrito por médicos por conta da relevância de estudos que já apontavam o efeito benéfico das imunizações no sexo masculino. Mas a agência regulatória brasileira ainda não havia aprovado a indicação de nenhuma das substâncias para homens. Já para mulheres, esse aval existe desde 2006.

O laboratório responsável pela fabricação da vacina conseguiu a aprovação com base em um estudo divulgado na "New England Journal of Medicine", uma das principais publicações médicas do mundo, que comprovava a redução de 90% das verrugas externas na região genital.

O estudo clínico foi feito em 4.065 homens de 18 países, com idades entre 16 a 26 anos. A eficiência da vacina foi testada para os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus. Por atacar quatro tipos de HPV, a vacina recebe o nome de quadrivalente. Durante a pesquisa, o efeito da substância foi testado em comparação com placebos.
Além do combate às verrugas, a vacina foi eficiente em 85,6% dos casos para evitar a infecção persistente pelo vírus.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os tipos 16 e 18 respondem por 70% dos casos de câncer de colo de útero. Já os tipo 6 e 11 estão presentes em 90% das verrugas genitais. Nos homens, o HPV pode levar a câncer no pênis, no ânus e na orofaringe.

Sobre o HPV
O HPV é uma das principais causas de câncer de colo de útero em mulheres no mundo. Atualmente, 630 milhões de pessoas carregam o vírus. É comum que o micro-organismo esteja no corpo de uma pessoa sexualmente ativa, mas não provoque nenhum sintoma, podendo ser eliminado com o tempo. São conhecidos mais de 200 tipos do vírus, mas somente alguns são de alto risco oncológico.

O contágio se dá pelo contato com a pele de uma pessoa portadora do vírus. O uso da camisinha durante relações sexuais diminui o risco, porém não elimina a chance de infecção, já que o micro-organismo pode entrar no corpo da pessoa saúdavel pela pele ou por mucosas. O corpo normalmente desenvolve anticorpos contra a ameaça, mas em alguns casos a defesa natural do organismo não é suficiente.

Uma pesquisa anterior, publicada na revista "Lancet" e com participação de brasileiros, mostrou que metade dos participantes contraiu o vírus do papiloma humano. A falta de atenção do sexo masculino com a doença já foi alertada até pelo Nobel de Medicina de 2008 Harald zur Hausen - em entrevista ao G1 em 2010 -, o responsável por descobrir a relação entre o HPV e o câncer de colo de útero.


Fonte: TV GAZETA