Os irmãos Marco, de 11 anos, e Rafael Zardetto, de 7, são daquelas crianças que a professora pega como exemplo. Não pelas notas – apesar de elas estarem acima da média –, mas pelo que levam na mochila: tomate-cereja, cenouras cruas, sanduíches naturais, frutas e até salada. No almoço, comem uma variedade de verduras e legumes de dar inveja a professoras de ioga. Como os pais, Cristina, uma dentista de 39 anos, e Ruy Zardetto, de 46, dono de uma oficina mecânica, conseguiram a façanha?
Calma. Eles não são de outro planeta. A família Zardetto come carne, há cookies no armário da cozinha, ketchup na geladeira e sorvete no freezer. As crianças sabem o que é pizza e sanduíche do McDonald’s – e adoram. Rafael gosta de bala. Marco não rejeita chocolate. O que os torna diferentes da maioria é a predileção por alimentos saudáveis. Marco já levou cenouras e salada de alface para a festa de Halloween da escola. Rafael, o mais novo, também se habituou aos comentários surpresos dos amigos. Ele devora ao menos quatro tipos de fruta por dia. “Acho gostoso e estou acostumado”, afirma.
Na casa dos Zardettos, fritura é exceção. A mãe não compra biscoito recheado nem refrigerante. Evita embutidos, congelados e temperos prontos. Há opções de grãos integrais, frutas secas, tudo à mão. O exercício da alimentação saudável começou cedo. Cristina fazia a papinha dos meninos sem misturar os legumes. “Eu queria que eles sentissem o sabor de cada um”, diz. Com pouco mais de 6 meses, Marco e Rafael eram estimulados a comer legumes e frutas com as mãos. Os meninos faziam sujeira, lembra a mãe, mas aprenderam a brincar e gostar dos alimentos. Até quando foi possível, Cristina evitou salgados fritos, balas e doces em geral. A exposição tardia a esses alimentos, acredita, pode ter influenciado o paladar dos filhos. Marco pediu refrigerante pela primeira vez aos 5 anos. Rafael provou o primeiro brigadeiro mais cedo, com 1,5 ano. Cristina nunca os proibiu de comer nada. Mas não ter esses alimentos em casa contribui para que sejam exceção na dieta.
A família inteira costuma ir ao sacolão. As crianças experimentam tudo o que é comprado. Quando decidem passar o dia no parque, levam lanche de casa. Na cozinha há um quadro branco com algumas regras de convivência. Elas foram escritas em caneta preta por Rafael: não gritar pela janela e só dizer palavras bonitas. Além dessas, a mãe exige outras: horários para as refeições e alimentos certos para cada uma delas. O ketchup, a pizza e os doces são regulados.
Como boa parte das crianças, os meninos passaram por fases de resistência alimentar, recusando novidades e alimentos saudáveis. Ainda hoje acontece de torcerem o nariz para algo a que não estão habituados. São crianças, afinal. Diante disso, Cristina e Ruy tentam de novo no dia seguinte ou renovam a receita. Também pedem ajuda das crianças na cozinha. Rafael conta orgulhoso de sua obra recente. “Criei um bolo chamado bacanela”, afirma, sobre um doce que leva banana e canela. Estimular as crianças, no entanto, tem limites. Firmeza e autoridade também são parte importante da dieta. “Se não comer, vai ter de esperar a próxima refeição”, diz o pai. “Não tem negócio.”
Todos na linha
Os 10 bons hábitos da família Zardetto
1.A refeição sempre acontece com a presença de um adulto. Quando a mãe não acompanha, a avó é escalada para almoçar com eles
2.As crianças fazem o supermercado com os pais e são estimuladas a escolher novidades para experimentar, como uma nova espécie de uva
3. Não há biscoitos recheados, balas ou salgadinhos no armário. Esses alimentos só são consumidos fora de casa, em aniversários
4.Há um quadro de aviso na cozinha com regras de boa convivência, como falar palavras bonitas e não gritar pela janela
5.A fruta da sobremesa sempre está na mesa, com o arroz, o feijão e os demais acompanhamentos. Isso evita que as crianças peçam uma guloseima
6. Eles só comem fora de vez em quando. Uma ou duas vezes por mês vão ao restaurante ou comem pizza em casa
7. As crianças costumam preparar receitas com a mãe. Já inventaram receitas de bolo com banana e canela
8.Ninguém é obrigado a comer o que não gosta. Mas a mãe não prepara alimentos especiais para cada filho nem pergunta o que eles desejam comer
9.Os pais exigem postura das crianças à mesa. A mãe chama a atenção se elas estão debruçadas à mesa ou não se sentam corretamente para comer
10.Levam lanche de casa quando vão para a escola ou saem a passeio. É uma forma de evitar alimentos pouco nutritivo.
FONTE:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI216633-15257,00.html