O câncer oral é um crescimento desordenado de células que se tornaram malignas (tumor ou neoplasia maligna), na cavidade oral ou lábios, que pode invadir outros tecidos e órgãos e até se espalhar para outras regiões do corpo (metástase). O câncer acontece quando uma célula normal do nosso organismo começa a se dividir de forma descontrolada e acelerada. Esse descontrole geralmente é causado por um acúmulo de mutações no DNA da célula (alterações genéticas) que não são reparadas pelos sistemas de controle do organismo. Assim, diz-se que houve transformação maligna dessa célula. O tipo de câncer oral mais comum é o carcinoma de células escamosas.
No Brasil, o câncer oral tornou-se um problema de saúde pública, principalmente nas populações com dificuldade de acesso a serviços de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, a cada ano há cerca de 14.120 novos casos de câncer oral.
Aftas podem se tornar câncer?
Não. As aftas são lesões comuns e suas causas, ainda incertas, parecem relacionadas a alterações no sistema de defesa do organismo. São úlceras muito dolorosas (já as lesões iniciais do câncer tendem a ser indolores), recorrentes e autolimitadas, isto é, cicatrizam espontaneamente em poucos dias. Se a pessoa acha que tem uma lesão parecida com afta que não cicatriza após uns 15 dias, deve procurar um dentista ou médico para fazer o diagnóstico da condição.
Quais são os fatores de risco mais comuns associados ao câncer oral?
Primeiramente, fator de risco para o câncer significa uma condição que aumenta a chance de uma pessoa desenvolver o câncer. Para o câncer oral, o principal fator de risco é o uso do tabaco (cigarro, cachimbo, charuto, rapé, fumo de rolo). No tabaco há cerca de 4.700 substâncias tóxicas e pelo menos 60 dessas têm grande potencial de causar câncer.
O álcool também é um fator de risco e o seu uso com o tabaco aumenta ainda mais a chance de desenvolver um câncer oral. Além disso, deficiências nutricionais e a irritação mecânica crônica da mucosa (dentes fraturados e restaurações e próteses mal adaptadas) atuam como cofatores, favorecendo a ação de outros agressores, como o tabaco e o álcool. A má higiene da boca é considerada um determinante adicional ao risco de câncer. Pessoas do sexo masculino e acima de 40 anos de idade têm maior risco de desenvolver o câncer de boca e devem ficar atentas, principalmente, se forem fumantes e usuários de bebidas alcoólicas.
Pessoas que se expõem muito ao sol podem desenvolver o câncer de lábio. Essa doença ocorre mais em pessoas de pele clara, principalmente no lábio inferior.
Ao evitar os fatores de risco para o câncer de boca, estamos prevenindo essa doença. Portanto:
Pare de fumar;
Evite bebidas alcoólicas, e se for beber, faça-o de forma moderada;
Faça a higiene da boca diariamente e visite seu dentista regularmente;
Tenha uma dieta saudável, rica em vegetais e frutas;
Evite a exposição excessiva ao sol e proteja-se, usando protetor solar e chapéu de abas largas.
Como é diagnosticado esse câncer? É possível confundi-lo com outros tipos de lesões pré-malignas?
O câncer de boca é diagnosticado, num primeiro momento, pelo exame clínico e depois, de forma definitiva, pela biópsia, que é a retirada de tecido da lesão para análise microscópica em laboratório (exame histopatológico). Se necessário pode-se fazer exames complementares de imagem, como radiografias e tomografias. O ideal é que a própria pessoa fique atenta a alterações que apareçam na região da cavidade oral, lábios e garganta. Se há alterações, como sinais, assimetrias, feridas, áreas esbranquiçadas e/ou avermelhadas e indolores, que não desaparecem nem melhoram em cerca de 15 dias, a pessoa deve procurar um serviço de saúde. Por outro lado, todo dentista deve, nas consultas de rotina, fazer um exame minucioso em todos os pacientes, pois, quanto mais cedo se detectar o câncer, maiores serão as chances de cura. Mas a maioria dos casos tem sido diagnosticada quando a doença já está em fase avançada e a cura se torna muito difícil.
O câncer de boca pode ter diversos aspectos clínicos. Por isso, durante o exame da boca, muitas vezes não é possível diferenciar uma lesão pré-maligna de uma lesão maligna (câncer), sendo importante realizar o diagnóstico diferencial, para descartar outras doenças, e a biópsia, para o diagnóstico definitivo.
O HPV tem alguma ligação com esse câncer?
O Papilomavírus Humano (HPV) pode introduzir seu DNA no DNA da célula hospedeira. Assim, quando nossa célula se multiplica, o DNA do vírus também se multiplica. Isso pode produzir tumores benignos, como papilomas e verrugas, mas em alguns casos pode haver produção de tumores malignos. A relação HPV-câncer de colo do útero já é mais conhecida e sabe-se que há tipos de HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer nessa região. Mas para o câncer de boca, apesar de numerosas pesquisas em todo o mundo e de alguns casos apresentarem o HPV, essa ligação de causa-efeito ainda não está bem esclarecida.
Como é feito o tratamento?
Depois de feito o diagnóstico definitivo, geralmente pela biópsia, o paciente é encaminhado para um serviço especializado em tratamento de câncer. A equipe médica decidirá qual o tratamento mais indicado para cada caso, que pode incluir cirurgia (remoção cirúrgica do tumor), quimioterapia (uso de compostos químicos para destruir células tumorais) e radioterapia (uso de radiação ionizante para destruir células tumorais). A escolha do tratamento dependerá do tamanho e das características da lesão e do estágio da doença. Em muitos casos, faz-se a combinação desses tipos de tratamento. Quanto mais cedo o tratamento for feito, maiores as chances de cura.
Referências
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, Secretaria de Assistência à Saúde, Ministério da Saúde, Brasil. Falando Sobre Câncer da Boca. Rio de Janeiro, 2002. 52 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/falando_sobre_cancer_boca.pdf.
COORDENAÇÃO DE PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA DE CÂNCER, INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, Secretaria de Atenção à Saúde, Ministério da Saúde, Brasil. Estimativas 2010: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2009. 94 p. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2010/estimativa20091201.pdf.
CARVALHO, C. Cresce incidência de câncer de boca no Brasil. Rev. Bras. Odontol. São Paulo, v.60, n.1, p.36-9, jan./fev. 2003.
SILVERMAN, S. Oral Cancer, American Cancer Society. 5. ed. BC: Decker Inc., 2003. 212 p.
FRANCO, E.L. et al. Risk factors for oral cancer in Brazil: a case control study. Int. J. Cancer. New York, v.43, n.6, p.992-1000, June 1989.
Doralina do Amaral Rabello Ramos é Doutora em Ciências Odontológicas/Patologia Molecular pela Universidade de Medicina e Odontologia de Tóquio.
FONTE: IDMED