Qual é a relação da depressão com o câncer? A depressão é muito comum no câncer e, quando está presente, piora muito a evolução do quadro clínico e a qualidade de vida do paciente. A depressão acomete os portadores de câncer ou pode-se considerar que a depressão causa câncer? Os estudos não comprovaram que a depressão possa ser a causa principal de câncer, uma vez que as causas do câncer são multifatoriais, envolvendo aspectos genéticos, psicológicos, história de vida e exposição a agressores ambientais, mas certamente pode ser um dos fatores contribuintes para o seu surgimento, principalmente como um desencadeador dos primeiros sintomas clínicos do câncer, por prejudicar de forma indireta ou direta a imunidade do organismo, permitindo que ele avance mais rapidamente. Em alguns casos de câncer, como, por exemplo, o câncer de pâncreas, a depressão pode ser uma consequência da agressão do câncer ao cérebro, tanto por fatores diretos (metástases cerebrais) como por desequilíbrios biológicos que afetem o cérebro indiretamente (desequilíbrio de sais minerais, por exemplo). Quais são os fatores que contribuem para a depressão? Vários fatores podem contribuir para o surgimento da depressão, como vulnerabilidade genética (familiar), doenças clínicas ou uso de medicamentos que induzem à depressão (por exemplo, alguns anti-hipertensivos), ou mesmo o uso de drogas como álcool e cocaína. Um estresse mais intenso geralmente pode desencadear uma crise depressiva, mas não pode ser considerado uma causa da depressão. Como notar os sintomas? Os principais sintomas são: tristeza a maior parte do tempo, perda do ânimo e disposição, fadiga ou cansaço excessivo, alterações do sono – como insônia ou excesso de sono –, alteração do apetite – como aumento ou diminuição do apetite –, problemas de concentração e memória, agitação física ou lentificação física, pensamentos negativos, de culpa, de baixa autoestima, de pessimismo e de suicídio e morte. Os pacientes podem não falar nada e apresentarem-se mais lentos, mais tristes ou mais apáticos, deixando de fazer coisas que gostavam, se isolando das pessoas e não conseguindo dar conta das atividades que costumavam fazer, tanto no trabalho como em casa. Depressão em pacientes com câncer está associada a maiores índices de mortalidade? Certamente, não só mortalidade, mas também pior qualidade de vida. O que fazer para buscar tratamento? É possível tratar o câncer e a saúde mental em sintonia? Na suspeita de uma depressão em um paciente com câncer, seria necessário pedir uma avaliação de um médico psiquiatra, que vai avaliar e indicar, quando necessário, tratamento medicamentoso. O tratamento psicológico é quase sempre indicado, pois pode melhorar a sobrevida dos pacientes, independente da presença ou não de uma depressão. O tratamento do câncer precisa quase sempre de um tratamento paralelo psicológico, pois esse suporte melhora muito a qualidade de vida e a capacidade de enfrentamento dos pacientes diante do estresse poderoso que é poder perder a vida por um câncer, principalmente através de terapias de grupo especializadas e focadas em pacientes com câncer que sobreviveram. A saúde mental bem cuidada é fundamental para a boa evolução de um paciente com câncer. Como as pessoas (familiares, cuidadores, etc.) que estão ao redor desses pacientes podem ajudar o depressivo? Dando apoio, estando presentes, se preocupando sem pressionar demais esses pacientes, pois o excesso de atenção pode gerar superproteção e ser mais um fator de estresse. É importante estimular os pacientes a procurar ajuda psicológica e eventualmente psiquiátrica, e entendendo melhor o problema da depressão, com busca de informações de boa qualidade. No Brasil, sugiro a ABRATA – Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (http://www.abrata.org.br/). Prof. Dr. Teng Chei Tung – CRM/SP 65297 – é médico supervisor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), coordenador do Serviço de Interconsultas do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP), membro da Comissão Científica da ABRATA – Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtorno Afetivo e diretor clínico da CLIAD – Clínica de Ansiedade e Depressão. Possui doutorado em Psiquiatria - FMUSP. |